sábado, 30 de maio de 2009

PhotoEspaña expõe em Lisboa duas visões do quotidiano

Cristóbal Hara e Mabel Palacín são os artistas espanhóis que em 2009 participam na extensão portuguesa do festival, no Museu Berardo.

Pelo segundo ano consecutivo, o Museu Berardo acolhe uma extensão do PhotoEspaña, o festival de fotografia que arranca em Madrid no próximo dia 3, com 22 exposições e um ciclo de cinema dedicado ao português Pedro Costa (ver entrevista). Em Lisboa, inauguraram-se ontem as exposições de Cristóbal Hara e Mabel Palacín, duas visões diferentes sobre o "Quotidiano", o tema da edição de 2009.

Sérgio Mah, o curador português que em 2007 foi convidado para comissário-geral do festival até 2010, explicou ao DN que a problemática do quotidiano lhe interessou enquanto "uma espécie de back to basics, como retorno aos temas mais simples e essenciais"; enquanto afirmação de "uma certa atitude da produção artística, que prova que é possível produzir através de gestos simples, trabalhar com aquilo que se tem" (uma questão pertinente em tempo de crise), e enquanto "ideia de que, apesar da tecnologia e do virtual, "continuamos a querer tocar nos elementos mais tangíveis".

"Todas as exposições mostram um mundo muito reconhecível, é um mundo que todos nós percebemos. A diferença está no gesto do artista", acrescentou Sérgio Mah, recordando que a anterior edição do PhotoEspaña foi vista por mais de 600 mil pessoas.

De Cristóbal Hara (Madrid, 1946), apresenta-se no Museu Berardo uma antológica com imagens das séries que tem trabalhado nas últimas duas décadas, o seu primeiro vídeo (inédito, de 2007) e um documentário que realizou para o canal Arte.

O artista move-se entre o registo topográfico e documental da vida nas pequenas povoações espanholas, o olhar irónico sobre rituais religiosos e pagãos e apontamentos paradoxais que remetem para questões como o sexo e o pecado, a violência (caso das séries sobre cavalos ou touradas) ou os despojos das festas (como a inquietante série Denia, com os restos dos manequins queimados durante Las Fallas de Valencia).

Num trabalho singular sobre o território espanhol e o seu universo vernacular, Hara vê também momentos biográficos. Folheando o livro Autobiography, o artista contou, na visita guiada, que vê no miúdo pendurado no ar o seu "alter-ego" e que cada série evoca "memórias emocionais", numa teia de ambiguidades que "segue até à morte" com imagens de funeral. A última foto é um cavalo empinado, pois "esse é o jogo e não se deve levar demasiado a sério", conclui.

Bem diferente é a proposta de Mabel Palacín (Barcelona, 1964), que traz a Lisboa três trabalhos. O vídeo Hinterland é uma ficção encenada num cenário de periferia, feita de travellings sobre uma fotografia de alta definição.

Na série Portas Espanholas, três obras com os mesmos fotogramas, ampliados e sobrepostos, criam várias sequências possíveis. E a instalação vídeo Distância Correcta resulta da interacção de um actor com a projecção de cenas de filmes. A natureza do próprio dispositivo da imagem, numa abordagem transversal a várias artes, é o campo que tem interessado a Palacín. Para, como disse aos jornalistas, "dar tempo ao olhar".

fonte: DN
autor: Paula Lobo

Sem comentários: